por que a cultura açucareira deixou marcas na escravidão na nossa sociedade?
Soluções para a tarefa
A cultura açucareira deixou marcas da escravidão na nossa sociedade, arraigadas até hoje. Naquele tempo, em que o rio Capibaribe era o lugar nobre de passeio das sinhazinhas, lugar de banho, temos a triste memória, retratada na história e nas pinturas da época, dos tigres. Negros escravos carregando dejetos das casas senhoriais para jogar no mar, num tempo em que o banho de mar não era valorizado. A herança maior da escravidão perdurou no trabalho doméstico. As empregadas domésticas foram estigmatizadas de piniqueiras, função em tudo semelhante a dos tigres. Estupradas pelos descendentes dos senhores de engenho mal saídos da adolescência no recinto dos lares cristãos ainda um século depois da abolição. Heranças da escravidão são as tristes marcas que nos deixam à margem dos índices de civilização do mundo.
Embora as condições de trabalho do empregado doméstico tenham melhorado, ele ainda não deixou de estar associado a herança do regime escravocrata e do colonialismo no nosso país. A patroa ainda trata a empregada como vassalo, submetendo-a a extenuante jornada de trabalho e se recusando a pagar o básico dos direitos trabalhistas, sem falar da forma desrespeitosa como são tratadas, inclusive sendo assunto preferido durante as rodas de conversa das patroas. Em sua maioria a relação entre patrão e doméstica não ocorre de forma profissional, esteve e está quase sempre associado a exploração da miséria, onde as meninas que estavam em situação de extrema pobreza eram obrigadas a servidão como meio de escapar da fome.
“O Brasil se acostumou à abundância de trabalho doméstico ao longo de quase 200 anos. Mesmo antes da abolição da escravidão, em 1888, moças de todas as raças migravam do campo para as cidades, a fim de trabalhar para famílias mais ricas, escapar da pobreza e aumentar a chance de encontrar um bom marido. Eram enredadas em relações de caráter dúbio, meio de trabalho, meio familiar, num novelo de padrinhos, madrinhas, agregados e favores. As moças recebiam normalmente abrigo e comida em troca de dar “ajuda” nos trabalhos da casa, como explica a economista Hildete Pereira de Melo, da Universidade Federal Fluminense (UFF), que há 20 anos estuda a evolução do emprego doméstico na história do Brasil. A “ajuda” virou trabalho remunerado na segunda metade do século XX. Mas esse mercado continuou dependente dos bolsões de pobreza, da desigualdade de renda entre regiões e do número de adultos sem instrução. Juntas, essas peças garantiram, até recentemente, uma oferta constante de pessoas dispostas a migrar para as capitais, morar na casa alheia e trabalhar por salários muito baixos, pequenos o bastante para caber no bolso da classe média tradicional